sábado, 29 de janeiro de 2011

A viagem de Earendil e a criação de Arda pelos versos

Na infância de Tolkien, os nomes dos trens eram em galês antigo. Aquela língua o encantou. E continuou encantando até que, casualmente, comprou um livro em inglês arcaico (ou gótico). Foi um amor instantâneo pelo som daquelas misteriosas palavras que despertaram seu futuro como filólogo. Através desse estudo de línguas, conheceu poemas em línguas antigas e acabou travando contato com obras como “Beowulf”, “Sir Gawain and the Green Knight”, “Sir Orpheu” e “Pearl”. Também travou contato com os Eddas (da Islândia) e com o Kalevala (da Finlândia). Foi com um parco contato com a língua finlandesa que decidiu inventar sua própria língua. Foi com os mitos finlandeses que decidiu contar a história de Turin Turambar (uma versão do mito de Kulervo).Além de Kulervo, decidiu contar a clássica história da Humanidade em que os deuses punem um povo superior por sua arrogância e audácia, afundando a ilha em que moram. Tolkien costumava ser assombrado pelos pesadelos com Atlântida em muitas noites (assim como o medo de aranhas desde que uma caranguejeira subiu em seu berço). Assim nascia a história da queda de Gondolin. E apesar dessa história, junto com a de Turin, ter sido a primeira lenda imaginada para compor sua obra (então o “Book of lost tales”, que viria a ser conhecido como “Silmarillion”), ela se situava ao final da epopéia.A obra que se situaria no centro de todos os eventos, era sobre Lúthin Tinúviel e Beren o maneta. Esta história surgiu do amor de Tolkien por sua mulher Edith. Eles freqüentavam um parque cujos caminhos eram ladeados por árvores. Tolkien ria de alegria ao ver a graciosidade com a qual Edith dançava e cantava, assim como Beren (um humano) se apaixonou pela comprometida princesa élfica Lúthien ao vê-la cantar e dançar. Tolkien também escrevera um poema sobre isso, chamado “Goblin’s feet”.E os poemas foram as bases para a obra de Tolkien e o nascimento da Terra-Média. A queda de Gondolin teve mais de 2000 versos antes de ser bruscamente interrompido. A balada de Beren e Lúthien (ou “Leithian”) teve quase 4000 versos sem nem ter chegado à sua metade. Esses e outros versos podem ser conferidos no terceiro volume da série HoME (comentada em um post anterior): “Lays of Beleriand”. Vocês também podem encontrar trechos deles no “Senhor dos Anéis” ou nas “Aventuras de Tom Bombadil”. Por exemplo, a canção que Bilbo sobre Earendil.E foi a história e Earendil que poderia ter dado início a Terra-Média. De fato, a idéia de Tolkien de recontar a história mitológica da Grã-Bretanha se deu nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, por volta dos anos 1917 a 1919. Mas, antes disso, em 1914, quando Tolkien terminava seus estudos, se deparou com um grupo de poemas anglo-saxões chamados “Crist”, de um autor chamado Cynewulf. Dois versos da obra eram : “Eala Earendel engla beorhtast/ ofer middangeard monnum sended”, (“Salve, Earendel, mais brilhante dos anjos/ sobre a terra do meio mandado aos homens”).Earendel era João Batista, de fato, mas também era um nome para a estrela do mar, a estrela da manhã: Vênus. E embora ainda não tivesse adotado nomes tirados da literatura islandesa para sua obra (pois sequer possuía uma obra), o nome terra do meio (‘Terra-Média’, ou “middangear”, “midgard”) o atraíra, também. Então, antes de adotar o nome de Earendil, Tolkien escreveu um poema sobre as viagens de Earendel em seu barco pelas estrelas: “The shores of Faery”. Nascia aí a Terra-Média, o Quenta Silmarillion e a Saga do Anel. Nascia sem ser planejado e antes da hora e Tolkien, como o pai, viria a ser o último a saber, claro. Nascia em versos, como Beleriand, Arda ou Valinor, nascia em versos como conta o "Silmarillion".

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